Fomos viver para outra casa, com um pequeno jardim, onde tu podias brincar, apanhar sol, etc.…, ficavas no jardim das 08h ás 19h00, de 2ª á 6ª, quando eu chegava íamos passear, para um olival, solta, porque como diria o teu amigo tio Luís (que tu tão bem soubeste conquistar), era uma indignidade prender uma cadela como tu! Ao fim -de -semana íamos passear, sempre juntos, sempre perto de mim, a tua companhia era imprescindível de tão agradável, querias ir, então ias, pronto!.
Depois a minha vida mudou, e eu fiquei em casa alguns meses, acordava contigo, porque para ti era novidade estar alguém em casa. Depois de me acordares, lá ia eu sentir o cheiro do mar, o vento frio na minha cara, as tuas orelhas baixas por causa do vento, mas sempre a correr e a comer pedras, era uma pancada tua, literalmente comias pedras (um dia engoliste uma, e ficas-te doente, tonta!), ou então ia apanhar pinhas contigo, sentir aquele barulho calmante de que eu tanto gosto, de pisar caruma, e tu sempre a correr e a desafiar-me para brincar, nunca estavas longe, nunca (ou quase nunca) fugias, esse teu olhar doce estava sempre atento.
Antes disso já tu tinhas decidido que não querias ficar no quintal, querias andar dentro e fora, dormir na nossa cama, no teu sofá e ires lá fora ver do Tintim sempre que te apetecia, tu querias, e nós éramos obrigados a aceitar. Entre portas roídas e um ganir constante, portas abertas e uma casa com estragos, tu jogaste com as tuas armas e ganhaste, é assim, querias muito agradar, mas também querias que soubessemos que tu também tinhas uma opinião sobre o assunto.
Devagarinho, voltei a ter que sair, e tu voltas-te a ter que ficar sozinha uma grande parte do dia, tu sabias que tinha que ser assim, e não reclamavas, só pedias em troca um bom passeio, ao final do dia. Pelas 17h30, lá íamos as duas passear, umas vezes estava a chover ou frio mas tu não aceitavas um não como resposta, e lá ia eu.
Em Setembro deste ano a nossa vida voltou a mudar, trocamos de casa novamente, de cidade também. Tal como eu, sentiste falta do teu espaço, das tuas rotinas, mas mais uma vez, deste uma grande lição, independentemente do sitio onde estavas, o importante para ti era estares com os teus donos. Obrigada minha querida, obrigada mais uma vez! Sem ti, tinha sido mais difícil, ainda, viver esses meses (5).
Um dia ao passear contigo, ao final do dia, estava frio e muito vento, uma senhora perguntou-me, se eu não me chateava de apanhar tanto frio por causa de um cão! Que maçada dizia ela! Eu respondi, é uma troca, dar e receber, ela fica em casa sozinha muitas horas, eu passeio um bocadinho com ela, e em troca ela faz-me companhia, faz-me sentir amada e que a minha presença é desejada todos os dias e a todas as horas. Simples, realmente o amor tem destas coisas, para quem não ama, tudo é um mistério, para quem ama é natural e feito de forma espontânea.